quinta-feira, 15 de novembro de 2012

POR QUE ME IMPORTAR COM A IGREJA?

Na confusa e apressada sociedade contemporânea, a preocupação com a igreja tornou-se um artigo de luxo. Não é raro observar uma grande contingência de pessoas que se importam com o trabalho, dinheiro, filhos, carreira, emprego, salário, família, estudos, dentre outras coisas mais. Não me compreendam mal, não estou querendo dizer que é errado se importar com estas coisas. Todas as pessoas se importam. A razão de minha preocupação é a ausência da importância que a igreja tem na vida de muitos que se dizem cristãos. A questão, portanto, é: por que eu não me importo com a igreja como eu me importo com todas as outras coisas de minha vida? Por que, para muitos, a preocupação e a importância da igreja é tão marginal? Mas, enfim, por que se importar com a igreja? Primeiro, porque é o propósito fundamental de Deus. O projeto de Deus sempre foi formar um povo que seja seu, para servi-Lo e adorá-Lo. A igreja é o sonho fundamental de Deus cumprido em Jesus Cristo. Ele se deu pela sua igreja, ressuscitou por ela e voltará para ela. Por que não deveríamos nos importar com aquilo que mais importa a Deus? Segundo, devemos nos importar com a igreja porque ela é a materialização do amor de Deus na terra. A igreja é o “Corpo de Cristo”. Somos os braços, as mãos, os pés, a boca de Deus na terra. É na igreja que o perdido é salvo, o sujo é limpo, a caído é levantado, o ferido é curado, o desanimado é fortalecido, o faminto é alimentado, o nu é vestido, o forasteiro é acolhido. A igreja é a face amorosa de Deus perante o mundo. Será, então, que não deveríamos nos importar mais com ela? Terceiro, devemos nos importar mais com a igreja porque ela nos fornece o verdadeiro alimento. É na igreja que estão “os tronos de justiça” (Sl 122.4), a luz da palavra de Deus. Ela é o nosso verdadeiro alimento. É ela quem nos mantém de pé quando todas as seguranças terrenas se esvaem. Quando o diabo ofereceu o pão material a Jesus no deserto Ele o recusou. Ele tinha outro alimento mais sublime e valoroso: a palavra de Deus. Sempre que deixamos de ir à igreja ou nos importamos pouco com ela, descobrimos que somos nós quem sofre. Nossa fé fraqueja e a casca rabugenta de falta de amor cresce ao nosso redor. Em vez de calorosos, tornamo-nos mais frios. Em vez de melhores, tornamo-nos piores. Nós, seres humanos, causamos com freqüência grande dor para Deus. No entanto, Deus permanece apaixonadamente envolvido conosco. Não deveria ter eu essa mesma atitude para com a igreja que me cerca?

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A Igreja e a Política

A Igreja e a Política militam em esferas diferentes, mas nem por isso antagônicas. Suas naturezas são distintas, isto é, a Igreja adora a Cristo, proclamando o seu evangelho através de palavras e atitudes, enquanto a Política legisla e administra a polis (daí o nome política) para o bem-estar de seus cidadãos. Martin Luther King Jr. disse que “a igreja não é a ferramenta do Estado, mas a sua consciência”, demonstrando bem as duas esferas de ação. Contudo, nós cristãos, devemos ser bons cidadãos da polis do homem e da polis de Deus ou, nas palavras de Agostinho, da Cidade dos Homens e da Cidade de Deus. Aproximam-se as eleições. Como em todo país democrático o voto é um direito e uma imensa responsabilidade. O voto não tem preço, mas tem conseqüências. Sua má utilização perpetua a esteira de corrupção e jogos de interesses pessoais. Temos a responsabilidade como cidadãos da polis, de nortear nossas escolhas pelo padrão ético das Escrituras Sagradas com liberdade de opção, mas providos sempre de nossa regra de fé e prática: a Palavra de Deus. Nossas escolhas devem se fundamentar, portanto, na natureza da política e na natureza do evangelho. Como natureza da política está o atendimento aos interesses da população; a administração de acordo com a lei; a promoção do crescimento social, educacional e econômico; o cuidado e ampliação da infra-estrutura; o cultivo da cultura nacional, saúde e lazer; dentre outras. Como natureza do evangelho está o amor, a graça, a compaixão, a ética, o perdão, a santificação, a misericórdia, a honestidade e integridade, a mansidão, a humildade, dentre outras. Cuidemos, portanto, de não desprezar um precioso instrumento, o voto, buscando sempre honrar a boa política e o sublime evangelho de Jesus Cristo, através do qual fomos comprados por alto preço.

terça-feira, 3 de julho de 2012

SOCOS,CHUTES E BOFETADAS NA IMAGEM DE DEUS

A pergunta a ser feita a fim de se descobrir o que há de errado com práticas como o MMA, por exemplo, é: o que é o homem e qual o propósito de sua existência? Uma antropologia correta à luz das Escrituras nos auxiliará a respondê-la. A Bíblia declara categoricamente que o homem foi criado por Deus a sua imagem e semelhança (Gênesis 1:26,27). Isso significa que ele possui em seu ser atributos inerentes ao seu Criador, como: justiça, santidade e amor. Ele foi criado para “espelhar” e “representar” Deus diante de toda a criação. Seu papel é glorificar seu Criador, manifestando os atributos divinos perante toda criação. Mas algo terrível ocorreu: a imagem de Deus foi pervertida na Queda. Digo pervertida, não, perdida. Já que a imagem de Deus foi pervertida pela queda do homem no pecado, ela precisa ser renovada. Essa renovação ou restauração da imagem de Deus no homem é o que acontece no processo de redenção por meio de Jesus Cristo. Através de Jesus, o homem, que utilizava suas faculdades que o fazem semelhante a Deus de modo errado, é agora capacitado novamente a utilizá-los de modo correto. Esta restauração começa com a REGENERAÇÃO. A regeneração é um ato do Espírito Santo de Deus, através da pregação e do ensino da Palavra, pelo qual Ele primeiramente coloca a pessoa em união com Cristo e muda as inclinações de seu coração de tal modo que ela, que estava espiritualmente morta, se torna espiritualmente viva. A partir de agora, ela está pronta e disposta a crer no evangelho e servir a Cristo (João 1:12,13 e João 3:3). Esta restauração continua na SANTIFICAÇÃO. A santificação é o processo no qual há uma renovação progressiva da imagem de Deus no homem, corrompida pela queda (2Coríntios 7:1). Mas, o que isto significa na prática? A renovação ou restauração da imagem de Deus no homem significa que o homem é novamente capacitado a agir apropriadamente em sua tríplice relação, ou seja: sua relação com Deus, com seu próximo e com a criação. Primeiro, o homem é capacitado a estar apropriadamente voltado para Deus. Isto envolve amar a Deus de todo o coração, com toda a sua alma, com toda a sua mente e de toda a sua força (Marcos 12:30). Envolve adorar ao Deus verdadeiro e utilizar todas as suas faculdades de forma que glorifiquem a Deus. Segundo, o homem é capacitado para voltar-se apropriadamente a seu próximo. Isto envolve amar os nossos semelhantes como a nós mesmos. Envolve fazer pelo próximo o que esperamos receber deles. Envolve perdoar as falhas do outro como Cristo nos perdoou. Envolve interessar-se pela justiça social, pelos direitos humanos, pelas necessidades dos pobres e dos desamparados. Envolve servir ao próximo e não servir-se do próximo. Envolve até amar os inimigos (Mateus 5:44,45). Terceiro, o homem é capacitado para governar e cuidar da criação de Deus. Isto envolve dominar a natureza de forma responsável. Envolve explorar os recursos naturais de forma sustentável. Envolve preservar o meio ambiente contra a exploração gananciosa e predatória. Envolve desenvolver uma cultura cristã (artes, música, literatura, ciência, esporte, lazer, etc.) que espelhe a glória de Deus. Envolve desenvolver práticas agrícolas e científicas adequadas a produção de alimentos resguardando as reservas naturais. A renovação da imagem de Deus no homem não se refere apenas à piedade religiosa, mas é uma visão geral da vida, ou seja, uma cosmovisão humana: o relacionamento com Deus, com o próximo e com toda a criação de Deus. A grande e preciosa promessa é que todas as pessoas que foram atingidas pelo chamado de Cristo serão iguais a Cristo. Serão sua imagem como irmãos do Primogênito de Deus. Este é o destino último do discípulo: ser conforme a imagem de Cristo (Romanos 8.29). Nós agora, com a imagem renovada à imagem de Cristo, só podemos ser como Ele é. Agora que somos feitos imagem de Cristo, podemos viver segundo o seu exemplo. Esta renovação à imagem de Cristo é descrita de muitas formas no Novo Testamento. Ela é descrita como “despojar-se da velha natureza” e “revestir-se da nova natureza” (Colossenses 3:9,10), como “renovação da mente” (Romanos 12:2), como manifestação do “fruto do Espírito Santo” (Gálatas 5:16,22), como “assemelhar-se a imagem de Cristo” (Romanos 8:29, 2Coríntios 3:18), como “revestir-nos de Cristo” (Romanos 13:14). Essa renovação da imagem não é completada nesta vida. É, porém, um processo que continua durante toda a vida. “Os cristãos não são apenas pessoas boas, mas essencialmente pessoas novas”, escreveu C.S.Lewis. Pergunto, então: Como um homem com sua imagem renovada à imagem de Cristo e agora apto a desenvolver apropriadamente sua correta relação com Deus, com o próximo e com a criação pode compactuar e defender aquilo pelo qual o próprio Cristo o libertou? Como pode um homem regenerado e renovado por Cristo se alinhar com a escalada de violência que a sociedade publica e muitos aplaudem, no qual a dignidade, valorização e preservação da vida são postos em risco? Como pode um homem recriado à imagem de Cristo distribuir socos, chutes e bofetadas na imagem de Deus refletida na face do outro? Não seria isso uma contradição? A não ser que ele ainda não tenha sua imagem renovada...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

OS CRISTÃOS E O MMA

Alguns dias atrás me questionaram sobre qual deveria ser a relação entre os cristãos e esta nova modalidade de esporte/luta que se tornou uma febre, principalmente entre os adeptos da malhação nas academias, o MMA. Primeiramente gostaria de esclarecer que o MMA, e algumas outras manifestações esportivas, culturais e até artísticas são conseqüências diretas da descristianização da sociedade ocidental. Falo descristianização para não utilizar o termo anticristianismo, que seria uma expressão bem mais forte. Para explicar tal afirmação gostaria de retroceder na história. Nos áureos tempos do Império Romano em toda a sua opulência sob o domínio dos Césares, existia uma forma de diversão que promovia a euforia mórbida de toda a população de Roma: o esporte/luta entre gladiadores. Promovida pelo próprio Estado, o duelo fazia parte de uma estratégia para manter o povo subserviente a Roma e alheio às atrocidades cometidas pelo avanço do império, além de alimentar o marketing da díade pão e circo. Os gladiadores eram guerreiros treinados nas artes da luta, tendo em sua maioria um físico descomunal. Gozavam do prestígio das autoridades e do povo comum, sendo patrocinados, em sua grande maioria, pelo próprio império ou por cidadãos pertencentes às classes mais abastadas da sociedade da época. Equipavam-se em combate com seus escudos, espadas e lanças, arrojando-se um contra o outro, às vezes até a morte. Nisto consistia a eufórica e insana diversão da plebe que lotava os imensos pavilhões do Coliseu Romano. Quanto maior a violência durante a luta, maior a participação popular. Contudo, com o advento do cristianismo e seu poder de salgar e iluminar a sociedade pagã e amoral da época, os duelos começaram a escassear. A pregação do evangelho e o testemunho de seus mártires que sucumbiram aos montes nas mãos destes mesmos guerreiros contribuíram para despertar a consciência dos incautos. Quando, enfim, o cristianismo tornou-se a religião oficial do império no século IV de nossa era, o esporte/luta dos gladiadores foi abolido por completo. Seu palco maior, o Coliseu, foi abandonado como um memorial trágico de um tempo de crueldade e perversidade dos homens. E assim, permanece até o dia de hoje. Como afirmei anteriormente, nossa sociedade caminha rumo ao anticristianismo de forma rápida, daí o retorno de tais práticas que o cristianismo outrora baniu para sempre. Mas, com um agravante: seus defensores encontram-se também entre os cristãos. Afinal, qual seria a diferença de entrar em um estádio lotado como o Mineirinho para celebrar, aplaudir e estimular um duelo esporte/luta que contém os mesmos ingredientes em sua natureza de crueldade e infortúnio da agressão física até o sangue, de entrar no Coliseu Romano para celebrar, aplaudir e estimular as mesmas crueldades e infortúnios da agressão física até a morte? Há sim uma triste e única diferença: o Coliseu hoje está em ruínas e o MMA no auge da efervescência.

terça-feira, 19 de junho de 2012

HISTÓRIA E FÉ

A minha viagem a Israel, dentre outras reflexões, levou-me a compreender uma questão que, para muitos, têm suscitado dúvidas. A questão é: “De que modo a fé pode realmente ser fé, se ela for estabelecida pelas descobertas históricas?”. Em outras palavras, poderá a fé ser autêntica se ela assentar-se sobre a verificação histórica, já que a fé é a entrega do homem a Deus como um todo? Primeiramente, precisamos afirmar que a história não conduz necessariamente o homem a Deus, mesmo sendo esta história a história da operação de Deus no mundo. Um estudo preciso pode oferecer assentimento intelectual às descobertas sem necessariamente obter com isso a fé. A teologia e a história são empreitadas intelectuais, a fé é algo além. O historiador pode andar pelas ruas de Jerusalém nas estações da via crucis e visitar o túmulo vazio, verificando assim a historicidade dos relatos bíblicos sobre o sofrimento e a ressurreição de Cristo, e ainda assim rir-se de tais fatos. “A fé é um segundo passo”, nas palavras de Ladd. Eu diria, porém, que a fé está a um passo além da história. Com isso, quero dizer que, embora a história não prove a realidade de minha fé, ela é essencial para a verdadeira fé – pelo menos ao homem que se preocupa com a história. Funciona mais ou menos assim: a maior parte das pessoas vem para fé em resposta à Palavra de Deus proclamada sem testar criticamente a historicidade dos eventos que a Palavra proclama. Mas se ele concluir que os eventos pelos quais ele creu não são históricos, é difícil ver de que modo sua fé poderá suster-se. Ou seja, nenhuma fé cega é fé real. A fé não pode ser um salto no escuro, como acreditava Kierkegaard. Mas, por outro lado, se ele concluir que os mesmos eventos alegados são históricos, sua fé se sustenta e se robustece. A decisão de aceitar Jesus Cristo como Senhor não pode ser feita sem a evidência histórica acerca de Jesus. Se houver uma decisão sem qualquer evidência histórica, esta não poderia ser a decisão a respeito do Jesus da Bíblia, mas somente a respeito de uma ideologia ou de um ideal. A história não produz a fé, mas prova um fundamento adequado para a fé.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A CAMPANHA DO MEDO

Estamos às portas de mais uma campanha política. Todos nós, cidadãos brasileiros, utilizaremos do nosso direito democrático de escolher um candidato a um cargo público. Esta escolha deve ser determinada por alguns fatores como: honestidade, competência, caráter, ética, passado limpo, capacidade intelectual e moral, compaixão pelos menos favorecidos e experiência pública. Mas, o mais importante é ser vocacionado para a política, seja ele evangélico ou não. O que o Brasil precisa são de políticos por vocação e não de políticos por profissão. O vocacionado é aquele que se realiza no “fazer”. Ele ama o que faz e faz com amor e paixão. O político profissional, ao contrário, é movido pelo benefício que dele se deriva. Seu real interesse é o ganho pessoal que obtém. Ele não ama o “fazer”, mas o que este fazer pode lhe render. À medida que o dia se aproxima algumas alas mais radicais, tendo a caça ao voto como seu propósito máximo, lançarão mão de métodos menos ortodoxos. O método é antigo. Já foi utilizado em campanhas anteriores para governadores e presidentes. Consiste em instalar o medo, com base no misticismo pagão. Vocês devem se lembrar que, na última campanha presidencial, tivemos que conviver com diversos panfletos e propagandas que ligavam o antigo presidente a Satanás, e que, se eleito, fecharia todas as igrejas evangélicas. Fato que não ocorreu por não ter fundamento. A história se repete. Os jargões eleitoreiros também. Mas penso que, como cristãos evangélicos, temos a capacidade de discernir a real intenção dos fatos. Jesus já nos alertou: “Sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mateus 10.16). Portanto, tenha prudência ao lidar com propagandas que tentem influenciar o eleitor pela inclinação religiosa do candidato, satanizando os demais. Não tome partido com base apenas nessa informação, pois, neste período eleitoral, o que está por detrás dela certamente é o voto dos mais incautos. Como pastor, o meu compromisso é com o evangelho, mas também com a ética, cidadania e, acima de tudo, com o ensino bíblico saudável. É por isso que me sinto na obrigação de levantar algumas reflexões, a fim de que a sua consciência não seja alterada pelo terror. Lembre-se, o Supremo Governante está assentado no trono e o seu reinado nunca terá fim!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A BÍBLIA QUE EU NUNCA CONHECI - Uma viagem a Israel

Vista apenas pelos olhos de um curioso turista de primeira viagem como eu, a terra da Bíblia já é um domínio estonteante de contrastes espetaculares. Foi o próprio Deus que disse: “levantei a minha mão para achar uma terra que tinha previsto para eles, a qual mana leite e mel, e é a glória de todas as terras” (Ez 20.6). Colocada compactamente em um estreito território de cerca de 89Km de largura e 240Km de comprimento, tem montanhas cujos picos são nevados durante o ano todo e uma depressão tão profunda que chega a ser o lugar mais baixo da terra. A oeste encontra-se o belíssimo litoral do Mediterrâneo, e a leste o deserto da Arábia, tendo as montanhas do Golan como divisa da Síria e do Líbano. Os vales férteis da Galiléia contrastam com o território árido do deserto da Judéia. Não existe outro lugar igual na terra. Tão compacto que cabe num espaço que pode ser atravessado de carro em poucas horas, contudo, foi o cenário dos eventos mais significativos da operação de Deus no mundo. Viajar através da Terra Santa, como fiz em maio deste ano, de norte a sul e de leste a oeste, pode descortinar pontos interessantes na percepção dos propósitos de Deus registrados nas Escrituras Sagradas. Ao percorrer os estreitos caminhos da velha Jerusalém, ou as trilhas arenosas de Massada e do deserto da Judéia, ou a exuberância dos jardins e tamareiras às margens do Mar da Galiléia, enxergamos concretamente a verdade de Deus pretendida para todas as nações. São novos horizontes que se abrem diante de nós, sobretudo abrindo uma janela cheia de luz para uma releitura da Bíblia que eu nunca conheci. Penso que a terra da Bíblia serve a um propósito que há de durar mais do que a sua própria existência física. Como um grande palco para o desenrolar do drama dos eventos críticos da redenção, culminando no túmulo vazio em Jerusalém, essa terra serviu bem a Deus e ao homem. Se vista corretamente, pode reforçar, iluminar e dramatizar as verdades eternas da Bíblia. Pode inspirar um amor ainda mais profundo à Palavra de Deus e aperfeiçoar o entendimento do plano eterno da redenção do homem em Jesus Cristo.

terça-feira, 3 de abril de 2012

QUANDO TORNAMOS AS BÊNÇÃOS DE DEUS EM ALGO COMUM - Malaquias 1:1,2

Malaquias, que significa “meu mensageiro”, foi o último profeta de Deus do VT. Ele foi boca de Deus para um remanescente ingrato, rebelde e desanimado, apesar das bênçãos grandiosas de Deus: reconstrução do templo com Esdras, reconstrução dos muros com Neemias e retorno a Jerusalém após o exílio. Eles perderam a capacidade de se maravilhar diante das intervenções de Deus, cultivando um espírito acomodado e cínico. Os seis questionamentos (queixas) do povo para com Deus demonstram este espírito. Quando tornamos as bênçãos de Deus em algo comum, incorremos em graves distorções da fé. Vejamos. Primeiro, quando tornamos as bênçãos de Deus em algo comum, desprezamos o seu inigualável amor (1:1,2). Deus relembra ao seu povo sua graciosa eleição, fruto de seu inigualável amor. Inigualável por ser incondicional. Deus ama aqueles que por natureza eram objetos de seu desagrado. Inigualável por ser invencível. Deus ama “até o fim” (Jo 31.1). Inigualável por ser sacrificial. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito. Mas, a despeito do grande amor de Deus, o povo nutria um sentimento de desprezo e ingratidão: “Em quê tem nos amado?”. Segundo, quando tornamos as bênçãos de Deus em algo comum, oferecemos o pior (1:6-8). Deus esperava ser honrado, contudo, os sacerdotes e o povo ofereciam o pior. À semelhança de um pai ou de um senhor de escravos que recebiam a honra de seu filho ou de seus súditos, Deus esperava ser honrado pelo seu povo, mas obteve o desprezo pela qualidade de suas ofertas. Os animais ofertados eram cegos, coxos e enfermos, contrariando a lei. Eram ofertas indignas até para serem oferecidas a um governante terreno (v 8). E o mais lamentável dessa atitude é que poderiam oferecer o melhor, mas não o faziam (v 14). Para Deus, seria melhor fechar as portas do templo do que ofendê-lo com tais ofertas (v 10). Devemos refletir sobre como tem sido nosso culto oferecido a Deus... Será que Cristo tem de fato recebido a primazia? (Cl 1:18). Terceiro, quando tornamos as bênçãos de Deus em algo comum, invejamos a prosperidade dos perversos (2:17). O povo estava se comportando como Asafe se comportou no passado (Sl 73:3). “Eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos”. A prosperidade dos povos ao redor era causa de inveja, queixas e murmurações contra Deus (3:15). Em outras palavras, diziam: “Deus é injusto!”. O povo não conseguia reconhecer aquilo que Asafe reconheceu: que a riqueza material é efêmera; que o fim deles pode ser trágico; que a verdadeira riqueza é Deus quem nos dá (“Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo”, disse Jesus); que a justiça verdadeira se manifesta em Cristo (3:1-6). Ele virá e julgará a terra com a espada de sua boca (v 1-3). Em sua segunda vinda, Ele exercerá seu julgamento final (4:1,2). Quarto, quando tornamos as bênçãos de Deus em algo comum, usurpamos o que lhe é de direito (3:8,9). O pior ladrão é aquele que não se reconhece como tal. O questionamento: “Em que te roubamos?”, demonstra todo o cinismo do povo em não reconhecer a desobediência e a infidelidade coletiva (v 9): “Vós me roubais, a nação toda”. Eles estavam se apropriando daquilo que não lhes pertencia: o dízimo é do Senhor! Certa feita Jesus foi argüido sobre o imposto, ao que respondeu: “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Isto é, o cristão foi chamado para ser fiel em todas as esferas de atuação. Quando valorizamos a Deus e sua rica intervenção em nossas vidas, agimos como Davi (1 Cr 29): (1) Reconhecemos que tudo vem das mãos de Deus; (2) E das mãos de Deus o devolvemos.

terça-feira, 27 de março de 2012

PERDI A ESPERANÇA

De fato, perdi as esperanças. Tranqüilizem-se. A perda de esperança pode ser uma manifestação de lucidez. Às vezes, é preciso perder a esperança para voltar a viver. É ter a coragem de reconhecer que o que está morto realmente morreu, e só existe uma coisa a ser feita: enterrar. É preciso que os mortos sejam enterrados para voltar a viver. Perdi a esperança: enterrei a política oficial. Essa dos partidos, dos comícios, das carreatas, das promessas, do “tudo isso te darei se votares em mim”, que iniciará em poucos dias. Daí, antes que se iniciem, fica aqui o meu protesto. A política não é o jogo das verdades. Nela o que importa não é o ser, mas o que parece ser. Política hoje não se faz com verdade. Política hoje se faz com imagens. O negócio é o teatro. Aquele que representa melhor leva o prêmio. Aquele que engana melhor fica com o voto. Política é caçada. Políticos são caçadores que espreitam sua presa em busca de voto. O voto é o caminho para o poder. E para isso utiliza-se de táticas e técnicas refinadas para abater a presa. Põem armadilhas apetitosas, armam iscas... Será que neste bando de caçadores há alguma exceção? Quero crer que sim. Mas foi o Guimarães Rosa, mágico com as palavras, que me devolveu a alegria, quando escreveu: “O político pensa apenas em minutos, sou escritor e penso em eternidades...”. Em outras palavras, político é aquele que busca a ressurreição do poder, enquanto eu busco a ressurreição do homem. Acho que foi isso que ele quis dizer. Tranqüilizem-se as minhas ovelhas. Não estou deprimido, apesar de tantos escândalos. Estou em paz comigo mesmo. Já enterrei o defunto. Posso dedicar-me às coisas que julgo merecedoras do meu amor e trabalho: o reino de Deus. Quando uma esperança se vai, outra nasce em seu lugar. Como capim que brota sob a primeira chuva, depois da devastação da queimada...

quinta-feira, 15 de março de 2012

O ESPAÇO DA IGREJA NO MUNDO

Ultimamente, tenho ouvido com certa freqüência declarações como estas: “Precisamos de mais espaço na mídia”, “Precisamos de mais representação no Congresso Nacional”, “Precisamos de mais espaço na administração pública”. Será que estes são os espaços que a igreja precisa conquistar no mundo? Será que, ao menos, ela necessita conquistar espaços? A igreja de Jesus Cristo é o lugar no mundo onde se proclama e testemunha o senhorio de Jesus sobre o mundo todo. Logo, esse espaço da igreja não é algo que exista em função de si mesmo, mas algo que ultrapassa em muito seus próprios limites, não como uma sociedade cultual que tivesse que lutar por sua própria sobrevivência no mundo, mas como o lugar onde se testemunha a fundamentação de toda a realidade em Jesus Cristo. A igreja é o lugar onde se testemunha e se leva a sério que em Cristo Deus reconciliou consigo o mundo, que Deus amou o mundo de tal maneira que por ele deu o seu Filho. O espaço da igreja, portanto, não existe para disputar uma parte do território do mundo, tão presente hoje em declarações de disputas por estes espaços, mas para testemunhar ao mundo que ele pode ser o que é: o mundo amado e reconciliado com Deus em Jesus Cristo. A igreja somente pode defender seu espaço próprio não lutando por ele, mas pela salvação do mundo. Do contrário, a igreja transforma-se em “sociedade religiosa” que luta em causa própria, deixando assim de ser igreja de Cristo no mundo. Dessa forma, a primeira incumbência daqueles que pertencem à igreja de Jesus Cristo não é ser algo para si mesmos, criar, por exemplo, uma organização religiosa ou mesmo viver uma vida piedosa, mas ser testemunhas de Cristo para o mundo. Quero concluir, portanto, afirmando que quem quiser falar do espaço da igreja deve estar consciente de que esse espaço já nasceu rompido e superado por qualquer território que se queira “dominar” pelo testemunho da igreja a respeito de Jesus Cristo. Afinal, foi o próprio Cristo quem rompeu todas as fronteiras quando disse: “O campo é o mundo”.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

QUEM É VOCÊ NA MULTIDÃO

Todos nós estamos familiarizados com o equivocado ditado “A voz do povo é voz de Deus”. A própria história já deu mostras deste sofisma. A Alemanha já aclamou Hitler. A Itália já aplaudiu Mussolini. A Rússia já apoiou Stalin. Os chineses já endeusaram Mao Tse Tung. E vejam o triste desfecho: seis milhões de judeus mortos em campos de concentrações, toda uma população aniquilada pelo terror da guerra, assassinatos em massa para manter um regime totalitário e infame, cristãos perseguidos e mortos, igrejas incendiadas e dezenas e milhares de pessoas vítimas da fome em todo o país. A voz da multidão não é confiável. O próprio Jesus não confiava nas multidões (Jo 2:23-25). Jesus estava a caminho de Jerusalém. É a sua última semana antes da cruz. Após ser ungido para a sepultura por Maria, dirige-se resolutamente a Jerusalém. Ele tem uma missão a cumprir, e nada o desviará dela. Em seu caminho, as multidões o acompanham. Ele já traz consigo um cortejo de seguidores, mas conhece aqueles que são seus. Eles seriam atraídos a Ele após a ressurreição (v 32). É clara a intenção de João em destacar as multidões durante o seu percurso e sua entrada em Jerusalém (a palavra “multidão” ocorre 6 vezes neste relato: v 9, 12, 17, 18, 29 e 34). É também clara a sua intenção em destacar algumas classes de pessoas dentro da mesma multidão e a forma como elas se relacionavam com Jesus. Vejamos quais são elas: A primeira classe de pessoas são aqueles que não compreenderam quem Jesus era nem a natureza de seu reinado (v 12,13 e 34). Jesus entra em Jerusalém e é clamado pela multidão. Eles esperavam um messias político. Alguém que organizaria um levante popular e político, a fim de libertar a nação do jugo romano. O rei finalmente chegara, e com ele toda a expectativa de um novo tempo livre do domínio de César. Como os discípulos de Emaús, eles esperavam que fosse Jesus quem iria redimir Israel (Lc 24:21). Mas estavam errados quanto a sua pessoa. No fundo, eles não sabiam quem Jesus era (v 34). A segunda classe de pessoas que João destaca são aqueles que o buscavam apenas pelo milagre (v 18). Dentre a multidão, estavam aqueles que presenciaram o grande milagre da ressurreição de Lázaro (v 17). Através de seu testemunho, muitos saíram ao encontro de Cristo em busca do milagre. Esta classe de pessoas representa aqueles que desejam apenas o benefício, a cura, o livramento e a supressão se seus desejos e necessidades. São como os que buscaram a Jesus somente por causa do pão, após o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes (Jo 6:26). A terceira classe de pessoas são aqueles que o buscavam por curiosidade (v 20,21). Os gregos (gentios) certamente ouviram falar de Jesus, de suas curas e de seu ensino transformador. Desejosos de conhecê-Lo foram até Filipe, que era da Galileu. Estavam curiosos sobre o homem que detinha um ensino tão original e um poder tão grande de atração nas pessoas. Certamente, há também muitos curiosos em todos os lugares, até na igreja. Não são poucos aqueles que desejam apenas aplacar a sua curiosidade com respeito a Cristo e a igreja. A quarta classe de pessoas são aqueles que experimentaram a intervenção poderosa de Cristo, mas permaneceram incrédulos (v 37). A luz brilhou de forma intensa, mas não resplandeceu nos corações empedernidos (v 35, 36). Embora muitos tivessem presenciado sinais e maravilhas, não creram em Cristo para sua salvação. De modo geral, não é o milagre que produz a fé, mas a fé é que produz o milagre. Judas experimentou como testemunha ocular todos os milagres espantosos e pronunciamentos maravilhosos de Jesus, embora permanecesse com o coração endurecido. A quinta classe de pessoas descrita por João são aqueles que creram em Jesus, mas ocultaram a sua fé (v 42,43). Várias autoridades do povo e pessoas importantes creram em Jesus, mas por causa dos cuidados e respeitos humanos mantiveram-se em silêncio. Esses são aqueles que ocultam a sua fé por receio de perder a influência, a posição, o status, a “glória dos homens”. São representados por aqueles que amam mais o que conquistaram do que Aquele que os conquistou. José de Arimatéia e Nicodemus eram um exemplo desse tipo de gente. João declara que José de Arimatéia era discípulo de Jesus, “ainda que ocultamente pelo medo dos judeus” (Jo 19:38). E o que dizer de Nicodemus? Foi ter com Jesus de noite, com medo de ser visto e ter a sua reputação maculada perante os religiosos de sua época (Jo 3:2). Afinal, quem é você no meio da multidão? A qual classe de pessoas você pertence? Aqueles que pensam que Jesus foi apenas um grande líder revolucionário? Aqueles que o buscam apenas pelo benefício que Ele pode lhes conceder? Aqueles que, por curiosidade, pulam de um lado para o outro em busca de novidades? Aqueles que experimentaram sua doce presença, mas continuam andando na direção oposta? Aqueles que escondem a sua fé por receio de perder o que, enganadamente, pensam que conquistaram? A sexta e última classe de pessoas são descritas pelo próprio Cristo (v 44-50): 1. São aquelas que crêem que Jesus é Deus e não um messias político (v 44,45). 2. São aquelas que crêem que Ele é a revelação final e perfeita da verdade de Deus (v 46). 3. São aquelas que ouvem e praticam a sua Palavra (v 47-50). São estes que serão destacados não pelos homens, mas por Deus; que serão honrados não por homens, mas por Deus; que receberão o prêmio não das mãos dos homens, mas das mãos de Deus, em meio à multidão.