terça-feira, 17 de setembro de 2013

O PASTOR INVISÍVEL COM ROUPAS COMUNS

Ouvi-o esta semana. Soou-me como um pequeno gracejo que me provocou riso: “Os pastores são invisíveis seis dias por semana e incompreensíveis no sétimo”. Não sei quanto à parte do incompreensível, mas o fato é que, de fato, os pastores são invisíveis seis dias por semana. Geralmente o único momento em que as pessoas da igreja nos vêem em ação é quando dirigimos os cultos. Existem algumas outras ocasiões em que realizamos nosso trabalho em público: funerais, casamentos, formaturas. Contudo, quando aconselhamos no gabinete, só a pessoa fica sabendo. Quando visitamos os enfermos, só o doente e sua família ficam sabendo. Quando escrevemos uma carta, só a pessoa que recebe é que fica sabendo. Quando oramos, só Deus sabe. A maior parte das pessoas que pastoreamos tem muita visibilidade no seu trabalho: os professores na sala de aula, homens e mulheres em seus escritórios, policiais em sua corporação, médicos e enfermeiros nos hospitais, funcionários públicos em suas repartições. Não é assim com os pastores. Quando não estamos no santuário, as pessoas a quem pastoreamos nos vêem apenas de forma esporádica. Boa parte do nosso trabalho mais importante é realizado nos bastidores. O que as pessoas vêem no domingo é só a ponta do iceberg. Gostaria de encontrar meios que transmitissem um pouco das invisibilidades que mantém juntas a vida do pastor e igreja, como povo de Deus, quando não estivéssemos visivelmente juntos. Queria, tanto quanto possível, que as pessoas de minha igreja tivessem acesso às “invisibilidades” da minha vida de pastor, nas quais elas também estão envolvidas de certo modo. Queria que eles soubessem o que fiz e faço entre um domingo e outro enquanto orava nominalmente por eles, estudava as Escrituras para traduzi-las na linguagem e nas circunstâncias da vida deles e conduzia-os em atos de adoração que dessem profundidade às suas vidas. Queria encontrar meios para estabelecer uma comunidade que se estendesse por todos os dias da semana em todo o local de trabalho e em toda família, onde o evangelho se infiltrasse poderosamente pelas horas e dias da semana. Enfim, queria que experimentassem minha invisibilidade, tornando-os assim visíveis para a glória de Deus. Toda semana o pastor faz uma jornada bastante curta, mas necessária, do púlpito para o pátio do templo. No púlpito tudo estava bem organizado e equilibrado: as orações, o louvor, a pregação, atos visando criar um encontro com um Deus pessoal. Então, o pastor levanta os braços e impetra a bênção final, testemunhando as bênçãos contínuas durante a semana. Depois, dirige-se ao pátio para se encontrar individualmente com as pessoas. Lá, tudo é bem diferente. O povo, tendo recebido a oração final, faz uma reentrada desordenada em um mundo repleto de casamentos problemáticos, cidades caóticas, tédio da meia-idade, confusões de adolescentes, aflições emocionais, preocupações financeiras. O mesmo pastor que acabou de lidar de forma confiante com as Escrituras de Deus toca mãos tensas pela ansiedade e preocupações diversas do povo de Deus. No pátio, o pastor se encontra, subitamente, em um mundo que, embora diste apenas alguns passos do santuário, não é de adoração calma, não carrega confiança unânime, não é obediente em amor. A gora não se reconhece mais a salvação de forma inequívoca e aberta. No santuário a palavra de Deus organizou a vida na hora do culto. No pátio, os pecados da congregação começam a preencher a agenda para uma semana de visitas, aconselhamentos, orientação e consolo. A transição, às vezes, é abrupta, violenta e difícil. O mesmo que levantou suas mãos em pungente adoração é aquele que aponta o dedo e acusa sem piedade. Contudo, o pastor precisa compreender que cada detalhe da vida de cada pessoa faz parte de uma história mais ampla, maior: a história da salvação. Sem este entendimento, sua jornada, embora curta, do púlpito ao pátio, torna-se dolorosa demais. O trabalho pastoral é aquele que deve pegar a religião pela mão e a levar á vida cotidiana, apresentado-a aos amigos, vizinhos e colegas. É o trabalho que insiste em levá-la aonde ela tem de se misturar com a multidão. Quando não se dá a devida atenção ao trabalho pastoral, a mensagem tende, em certos ambientes, a se transformar em cerimônias de ostentação e, em outros casos, em casulos de emoções pessoais. Daí, ser necessário combinar dois aspectos primordiais do ministério: primeiro, apresentar a palavra eterna e a vontade de Deus e, segundo, encarnar a mensagem no meio do cotidiano local e das pessoas. Se qualquer um desses dois aspectos for desprezado, o ministério será empobrecido. O pastorado começa no púlpito, no batismo, na eucaristia, no altar, no culto. Prossegue no quarto de hospital, na sala de visitas, no gabinete de aconselhamento, nas reuniões de festividades, nos grupos pequenos. O pastor que lidera o povo no culto é companheiro do mesmo povo no período que se estende entre os atos de adoração comunitária. Durante a semana, o pastor tem como tarefa estender as implicações do evangelho da graça de Deus na vida das pessoas, enquanto elas trabalham, amam, sofrem, entristecem-se, brincam, aprendem e crescem em tempos de crise ou bonança. Enfim, ele é aquele que se veste para dirigir a adoração aos domingos com sua vestimenta apropriada à ocasião, mas, fundamentalmente, utiliza-se de roupas comuns na intrincada e exuberante existência humana entre domingos. Todo trabalho do pastor ocorre dentro do cenário da igreja: a comunidade da fé. Ele não deve ser o conselheiro de apenas alguns indivíduos, nem um preletor impessoal que só se dirige a multidões. Ele sim é colocado dentro de uma comunidade com a tarefa de edificá-la. A partir daí, sugestões são apresentadas para que passe a fazer outra coisa. Vou explicar. A igreja, a comunidade da fé, é uma comunidade altamente especializada. Seu caráter é único. Como escreveu Karl Barth: “A comunidade cristã é uma colônia estranha por sua natureza e existência, para os quais não existem analogias no mundo que a cerca”. A igreja não é uma organização que permanece sempre pronta para atender as necessidades de todas as pessoas, à semelhança das associações seculares. Sua existência provém de Deus e ela vive para a glória de Deus, na medida em que se relaciona com Ele em obediência e amor. Contudo, as tentativas, até bem intencionadas, de desviar o foco são inúmeras: os profissionais desejam usá-la como mercado para seus produtos, organizações políticas planejam aliarem-se a ela, burocratas eclesiásticos visam fortalecer seus cargos por meio dela, programas de assistência social querem arrecadar fundos a partir dela, dentre outras. É atribuição do pastor compreender com clareza e firmeza sua própria função, de modo que sejam capazes de discernir entre o que Deus determinou que eles fizessem na igreja e o que os outros lhes pedem para fazer. Além disso, ter a presença de espírito para dizer “sim” e “não” no momento adequado. A edificação da comunidade não consiste em fazer “muitas coisas”, mas em fazer a coisa certa (Lc 10.42). Quanto à sobrevivência, crescimento e sustento de uma comunidade do povo de Deus, tarefa designada aos pastores, o modelo é o servo. Figuras carismáticas são levantadas para desempenhar ministérios especiais, mas são inadequadas como exemplos de prática pastoral. Os pastores precisam escolher o estilo de servo se quiserem crescer e amadurecer em seus ministérios. Há de se repudiar como exemplo os que buscam a promoção e o fascínio. Jesus mesmo enfrentou uma árdua luta com seus discípulos nesta questão, já que procuraram o lugar de honra. Jesus, porém, interrompeu a argumentação deles com as seguintes palavras: “Mas entre vós não é assim; ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo” (Mc 10.42-45). A função do servo se completou em Jesus. Desde seu nascimento até sua cruel morte, tudo nEle falava de serviço: tocou leprosos, lavou os pés dos discípulos, fez amizade com as crianças, encorajou mulheres, submeteu-se à crucificação. Se Jesus é o nosso modelo de liderança, os pastores não têm como se esquivarem de servir. Como Jesus, não enfrentam em alta voz os que preferem injuriá-los, nem argumentam com eles. Prosseguem em seu trabalho com grande bondade e resignação. Não destrói a cana quebrada, o desprezado da sociedade. Não coage os que parecem fáceis de manipular. Servem a todos, mesmo aos mais fracos e inúteis. Não ameaçam. Colocam-se em posição inferior, ou ao lado dos outros. São desconhecidos, entretanto, bem conhecidos. Castigados, porém não mortos. Entristecidos, mas sempre alegres. Pobres, mas enriquecendo a muitos. Nada tendo, mas possuindo tudo...

sábado, 17 de agosto de 2013

O PASTOR INVISÍVEL

Ouvi-o esta semana. Soou-me como um pequeno gracejo que me provocou riso: “Os pastores são invisíveis seis dias por semana e incompreensíveis no sétimo”. Não sei quanto à parte do incompreensível, mas o fato é que, de fato, os pastores são invisíveis seis dias por semana. Geralmente o único momento em que as pessoas da igreja nos veem em ação é quando dirigimos os cultos. Existem algumas outras ocasiões em que realizamos nosso trabalho em público: funerais, casamentos, formaturas. Contudo, quando aconselhamos no gabinete, só a pessoa fica sabendo. Quando visitamos os enfermos, só o doente e sua família ficam sabendo. Quando escrevemos uma carta, só a pessoa que recebe é que fica sabendo. Quando oramos, só Deus sabe. A maior parte das pessoas que pastoreamos tem muita visibilidade no seu trabalho: os professores na sala de aula, homens e mulheres em seus escritórios, policiais em sua corporação, médicos e enfermeiros nos hospitais, funcionários públicos em suas repartições. Não é assim com os pastores. Quando não estamos no santuário, as pessoas a quem pastoreamos nos veem apenas de forma esporádica. Boa parte do nosso trabalho mais importante é realizado nos bastidores. O que as pessoas veem no domingo é só a ponta do iceberg. Gostaria de encontrar meios que transmitissem um pouco das invisibilidades que mantém juntas a vida do pastor e igreja, como povo de Deus, quando não estivéssemos visivelmente juntos. Queria, tanto quanto possível, que as pessoas de minha igreja tivessem acesso às “invisibilidades” da minha vida de pastor, nas quais elas também estão envolvidas de certo modo. Queria que eles soubessem o que fiz e faço entre um domingo e outro enquanto orava nominalmente por eles, estudava as Escrituras para traduzi-las na linguagem e nas circunstâncias da vida deles e conduzia-os em atos de adoração que dessem profundidade às suas vidas. Queria encontrar meios para estabelecer uma comunidade que se estendesse por todos os dias da semana em todo o local de trabalho e em toda família, onde o evangelho se infiltrasse poderosamente pelas horas e dias da semana. Enfim, queria que experimentassem minha invisibilidade, tornando-os assim visíveis para a glória de Deus.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

AS PRIORIDADES DA FAMÍLIA

A família é um projeto de Deus. Foi a primeira instituição divina. E foi criada para a glória de Deus e nossa felicidade. Para que a família experimente esse elevado propósito, necessário se faz que observemos algumas prioridades. Em primeiro lugar, Deus precisa vir antes das pessoas (v 1). Devemos amar a Deus com toda a nossa alma e de toda a nossa força, já nos ensinou Jesus. Devemos buscar em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça. Para ser um discípulo de Jesus é preciso estar disposto a deixar pai e mãe e amá-lo mais do que qualquer outra pessoa, por mais achegada que seja a nós. Deus ocupa o primeiro lugar em nossa vida, ou então, ainda não sabemos o que é segui-lo. O que é importante destacar é que, quanto mais amamos a Deus, mais amamos nossa família e mais fortes ficam nossos relacionamentos interpessoais. A nossa relação com Deus cimenta os demais relacionamentos, colocando-os dentro de uma correta perspectiva. Em segundo lugar, o cônjuge precisa vir antes dos filhos (v 3). Pecam contra o cônjuge e contra os filhos aqueles que colocam os filhos em primeiro plano e o cônjuge em segundo plano. Os cônjuges tornam-se “uma só carne”, indicando sua união, relação e grau de importância na família. Depois do Senhor, o cônjuge é a pessoa mais importante em sua casa. O maior presente que podemos dar aos nossos filhos é amar, com desvelo, o nosso cônjuge. A maior necessidade dos filhos é ver o exemplo dos pais. Não há família saudável onde os relacionamentos estão fora dos trilhos. Investimos nos filhos, quando investimos em nosso casamento. Cuidamos dos filhos, quando priorizamos nosso cônjuge. Em terceiro lugar, os filhos precisam vir antes dos amigos (v 3 b). Precisamos ter discernimento para colocarmos as coisas em ordem de prioridade. Nossos amigos são importantes, mas nossos filhos são mais importantes. Aqueles que não cuidam da sua própria família estão em total descompasso com o projeto de Deus. Não podemos sacrificar nosso relacionamento com os filhos para dar mais atenção aos nossos amigos. Não mais vivemos uma vida de solteiro. Agora temos novas responsabilidades que requerem nosso cuidado e atenção. Nenhum sucesso vale a pena quando o preço a pagar é o sacrifício dos nossos filhos. Os pais precisam entender que seus filhos são prioridade. Precisam investir neles o melhor do seu tempo e o melhor de seus recursos. Precisam criá-los na admoestação e na disciplina do Senhor. Não podem procá-los à ira para quem não fiquem desanimados (Cl 3:21). Em quarto lugar, as pessoas devem vir antes das coisas. Vivemos numa sociedade materialista e consumista. As prioridades estão invertidas. As pessoas se esquecem de Deus, amam as coisas e usam as pessoas. Devemos, ao contrário, adorar a Deus, amar a pessoas e usar as coisas. Quando colocamos coisas no lugar de pessoas tornamo-nos insensíveis e apartamo-nos do projeto de Deus. Há pessoas que, infelizmente, têm mais cuidado com o carro do que com os membros da família. São mais zelosos com seus objetos pessoais do que com os relacionamentos dentro de casa. Amam mais os bens materiais do que os membros da família. Em quinto lugar, o reino de Deus precisa vir antes dos nossos projetos pessoais (v 5). Por diversas vezes, Jerusalém simboliza ora a igreja de Jesus, ora o reino de Deus nas Escrituras. Uma família feliz tem como propósito fundamental a glória de Deus e a construção de seu reino na terra. Temos visto muitos crentes dando para a Deus a sobra dos seus bens, de seus talentos e do seu tempo. São pessoas que só se preocupam com as coisas terrenas. Correm atrás de seus próprios interesses enquanto a obra de Deus fica relegada a um segundo plano. Essas mesmas pessoas, nas palavras do profeta Ageu, semeiam muito e colhem pouco; vestem-se, mas não se aquecem; comem, mas não se satisfazem; e o salário que recebem, colocam-no num saco furado. O pouco que trazem, Deus o assopra, porque não aceita sobras, uma vez que requer primícias. Precisamos buscar em primeiro lugar o reino de Deus. Precisamos investir as primícias da nossa renda na promoção do reino de Deus. Precisamos investir em causas de conseqüências eternas. Nossa felicidade pessoal e familiar alcançará sua plena realização, quando essas prioridades estiverem alinhadas em nossa vida!

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A REVERÊNCIA PELA VIDA

Quanto tempo se leva para cortar uma árvore? Uns poucos minutos e tudo está terminado. Mas, para se sentar à sua sombra, muito tempo terá de passar. Terá de haver uma longa espera, e paciência. É sempre assim. Os caminhos da morte e destruição são mais rápidos. Por eles andam os que têm pressa. Já os caminhos da vida são vagarosos. Odiar o inimigo é muito fácil. Mas transformá-lo num amigo é coisa difícil que requer muita coragem. Acontece que creio em Deus, e Deus é vida generosa e mansa, presente em tudo que vive. Daí, podemos olhar para os fragmentos de bondade, quando todos olham para as evidências da maldade. Enganamo-nos confundindo as pessoas os seus atos. Ninguém é idêntico àquilo que faz. É isso que nos permite odiar o pecado e amar o pecador. Meu pai, chorando, com minha confissão nas mãos, deve ter odiado as coisas indignas que fiz. Mas ele me amou como nunca... Como no filho pródigo, o sofrimento prepara a alma para a visão de coisas novas. Sofrendo, os olhos ficam diferentes. E, coisa interessante: quanto mais próximos da humilhação nos encontramos, tanto mais perto de Deus nos sentimos. Como se fosse ali, onde a vida aparece desarmada e indefesa, nada tendo em suas mãos além do desejo de prosseguir, que ela viceja mais bela. Aliás, a vida para ser bela, deve estar cercada de Verdade, de bondade, de liberdade. Estas são coisas pelas quais vale a pena viver e morrer.