quinta-feira, 26 de março de 2009

A SENSIBILIDADE QUE ACENDE A VIDA

Fui surpreendido por um quadro. Não um quadro qualquer, pintado em série para ganhar dinheiro numa feira livre. Era um quadro especial. Cenas que retratam a ternura do campo. Amanhecer, montanhas, vacas com suas crias, paiol, árvores, estradas de terra. Especial porque fora pintado com os olhos do coração de esposa. Coração de quem ama e quer agradar. Quadros pintados com os olhos do coração são obras de pura sensibilidade. Sensibilidade é saber ver. Tudo depende dos olhos. “Não basta abrir a janela para ver os campos e o rio. Não é o bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. O essencial é saber ver”, diz Alberto Caeiro.
Jesus sabia ver. Ele passava pelo mundo, jardim de Deus, com os olhos atentos. Não é a toa que sua receita contra depressão era reaprender a enxergar as coisas. “Observai as aves do céu. Olhai os lírios do campo”. Ele sabia do efeito terapêutico da natureza diante da ansiedade. Quem é ansioso perde a sensibilidade de ver. Sofre sem saber por quê. Lembrei-me de um poema de Verlaine:

“Chora em meu coração
como chove lá fora.
Que desconsolação
Me aperta o coração!

[...] Chora em ti sem razão,
coração sem coragem.
Se não houver traição,
Teu luto é sem razão.

Certo, é essa a pior dor:
O não saber por que
Sem ódio e sem amor
Há em mim tamanha dor.”
Por isso a dor do deprimido é cruel: ele sofre sem entender o motivo. Quando se sabe o motivo fica tudo mais fácil. Mas sofrer sem saber por quê é difícil. A névoa escura invade, dificultando a visão e o entendimento. A cura está nas coisas simples que a névoa cegou. Por isso há de se começar pelos olhos. “Eu era cego, agora vejo”.
Os pintores são seres sensíveis. Como também o são os poetas. “Sensível”, no Aurélio, significa: afetuoso, afável, meigo, delicado, compassivo, emotivo, sublime e “humano”. Homo sensibilis. São capazes de perceber de forma mais clara o mundo que nos cerca: a natureza, as pessoas, as circunstâncias, a vida... e responder a ele de maneira sábia e bela. Sensibilidade, como já disse, tem a ver com o olhar. Muito embora os especialistas em ótica sustentem que os olhos são entidades escuras como planetas, e que apenas recebem a luz do mundo exterior, Jesus, poeta, afirma o contrário. Para Ele, os olhos são dotados de luz: “Os olhos são a lâmpada do corpo”. A luz que sai dos olhos inunda o mundo inteiro. Ao contrário, se a luz forem trevas, que grandes trevas serão a existência. A sensibilidade é a luz do olhar que faz o mundo aparecer. O poeta William Blake sabia disso e afirmou: “Um tolo não vê a mesma árvore que um sábio vê”. O sábio vê encantado.
Sensibilidade tem a ver com as mãos. Metáfora do auxílio. O homem sensível é aquele que responde ao apelo do mundo. Seus olhos captam a dor do próximo. Ele fica possuído por um outro sentimento que não é o dele. Sua alma é um condomínio. Cheia de tudo aquilo que experimentou. Poema de Álvaro de Campos:

Trago dentro do meu coração
Como um cofre que não se pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi [...]
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

Quando a alma fica cheia, entorna. Estende a mão e ajuda. Então, ele se compadece: “sofre com”. Eu penso que o contrário de amor não é ódio. É desprezo. É indiferença. Insensibilidade. Quem é insensível vive a rudeza de um coração endurecido pelo cimento da indiferença. Ele não reage. Pedra.
Eu anseio pela sensibilidade dos pintores e dos poetas. Olhar para o mundo de forma encantada e agir de maneira sábia. Para isso é preciso escolher algumas ferramentas que nos auxiliam a quebrar as pedras. A primeira é separar um tempo tranqüilo para ler. Dê a preferência para as Sagradas Escrituras. Elas o tornarão sábio porque tem o fundamento da sabedoria: o temor do Senhor. Sirva-se das coisas e ame as pessoas. Busque não inverter essa ordem. Curta cada momento com a família. Ela é a sua maior realização. Faça exercícios. De preferência a caminhada. É bom para o corpo e para a alma. Alma que não caminha fica doente. Volte a ser criança regularmente: brinque! Vá nadar na cachoeira, passear na roça, ler poesia, soltar pipas...
Porém, minha maior surpresa não estava na tela. Estava no verso. Aquela parte de trás que não contém a “arte”. Estava escrito uma dedicatória: “Ao meu amor com todo o carinho e dedicação. Espero que este quadro te leve a um pedacinho dos seus sonhos...”
A sensibilidade faz a vida florescer aonde ela toca.

5 comentários:

  1. é isso aí rev... sabia q conseguiria colocar a foto kkk
    abração

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  2. Sou suspeita para comentar, mas, vamos lá!
    O meu filho é um espetáculo!
    Um presente meu que ofereci a Deus.
    Lindo por dentro e por fora,
    um amor para todas as horas.
    Da sua mamãe... Márcia

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  3. Sou Márcia Rocha Poemas.
    Mãe de Luciano Rocha, dono do Blog.
    Quero fazer parte dos seguidores e postar comentários.
    Meu filho é um presente de Deus e oferecido a Ele para louvar a sua palavra!
    O Blog está lindo como a alma de quem o elaborou. Beijos Mamãe.

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