terça-feira, 13 de abril de 2010

PODEMOS SER BONS SEM DEUS?

Li outro dia um artigo com um título intrigante: “Podemos Ser Bons Sem Deus?”. A conclusão do autor, habilmente discutida e ponderada em algumas páginas, bem que poderia ser resumida numa só palavra: Não! Facilmente cedemos ao orgulho e ao egoísmo. A história da humanidade, desde o seu nascimento até os nossos dias, aponta para a mesma conclusão.

Como num filme, cenas de guerras, revoluções, injustiças, terrorismos, atrocidades, chacinas, violência, seqüestros e assassinatos estão impregnados em nossa alma. Convivemos com a maldade humana desde que nascemos. O primeiro choro do bebê já é um prenúncio de que há algo errado conosco e com o mundo. Por que ao invés do choro não há o sorriso?
Refletindo sobre a revolução comunista e as tragédias que se abateram sobre a Rússia, Solzhenitsyn escreveu:

“Passei quase cinqüenta anos pesquisando a história de nossa revolução. Li centenas de livros, coletei centenas de depoimentos e contribui com oito volumes de minha autoria para a iniciativa de remover as ruínas dessa levante. Mas se hoje me pedissem para formular da forma mais concisa possível a causa da desastrosa revolução que ceifou a vida de sessenta milhões de pessoas, eu não poderia ser mais preciso ao repetir: Os homens se esqueceram de Deus; daí a razão de tudo isso ter acontecido”.

Hoje, nas praças de Moscou, longas filas se formam a um simples aviso de distribuição do Novo Testamento. A história mostra o que os homens não querem reconhecer: precisamos de Deus. Pascal, um grande matemático e cientista do passado, disse: “É inútil, homem, buscares dentro de ti mesmo a cura para as tuas misérias. Todo o conhecimento que obtiveres só servirá para mostrar-te que não é em ti mesmo que encontrarás a verdade e o sumo bem”.

Um homem entra numa loja onde um grupo de pessoas se diverte, descarrega uma arma em um deles, despedaçando seus pulmões, coração e entranhas, volta para um outro e envia nova rajada de balas rasgando sua carne e ossos. Como eu poderia crer que Deus o libertaria? Mas se não fosse exatamente este o caso, então não existe esperança. Mas, será que é possível redimir a cultura? É possível. E a solução é simples: de dentro para fora. A partir do indivíduo para a família e daí para a comunidade, a semelhança de uma onda atingindo toda a praia.

Preste atenção nestes três personagens.

Rafael é aquele que comete os mais absurdos e abusados atos contra tudo e contra todos. Não respeita nem se importa com quem quer que seja. Jamais esconde suas ações, pelo contrário, orgulha-se delas como um troféu da sua rebeldia. É ingrato, irreverente, desafeiçoado, vil e mesquinho. Então vem Deus. E esse degenerado seguro de si e escandaloso começa a refletir sobre seu comportamento. Como resultado, ele continua a errar, mas agora já sente que essa incontrolável e invencível vontade de pecar é sua pior e mais terrível condição. Ele consegue detectar seu lado escuro da alma e se enche de temor.

João é uma pessoa de seu tempo. É amigo bom, respeitável e útil, talvez mesmo de bom coração. Mas não tem tempo para Deus e nem se interessa por Ele, ou pelo menos não tem o menor propósito de conhecer a Sua vontade. Talvez não se oponha ao sentimento religioso, nem a uma atmosfera devocional, nem a ocasiões festivas de natureza religiosa, particularmente se elas não o embaraçarem de continuar sua vida egocêntrica. Então Deus entra em ação, e esse homem amante dos prazeres do mundo, seguro de si mesmo, começa a sentir-se como que a naufragar ou afogar-se em seu próprio sangue. Sente agora que seu mundanismo é a maldição de sua vida. Mas, ao mesmo tempo, percebe que ama o mundo e as coisas que o mundo pode oferecer, e teme e odeia esse Deus que perturba seu principal divertimento.

Francisco é um homem religioso. Vive sua religião de forma intensa, emocional e exaltada. É um intelectual que se preocupa com o conhecimento e com o caráter. Ele sente que alcançou um degrau a mais, que encontrou uma forma adequada de conduta aprovada por Deus. Jamais pessoa alguma se sentiu mais satisfeita consigo mesma. Seguro de si manobra o próprio Deus para satisfazer-lhe a piedade. Então Deus entra em ação, e perturba todas as coisas. Surpreendido, ele descobre que religião e Deus não são a mesma coisa. A partir daí ele observa que a sua religião nunca lidou ainda com Deus, mas apenas com o seu ego. Pela primeira vez ele descobre que Deus não está interessado pela sua religião, mas sim pelo seu coração e sua vontade. Até essa época não havia pensado em ter um relacionamento com Deus.

De certa forma todos nós nos identificamos com eles. Um deles sou eu, em menor ou maior grau. Qual será? Embora a humanidade teime em percorrer caminhos alternativos, colocando-se no lugar do Criador, ela nunca promoverá uma real transformação. Será um engodo, uma falsificação grosseira da original. Somente Deus é capaz de criar dentro do homem um inescapável reconhecimento do fato de estar ele em conflito com a vontade divina. Por causa de seu imenso amor, Deus nos concedeu o seu melhor, no nosso estado pior.

Lembrei-me agora de um experimento em que o grande cientista Issac Newton quase perdeu a visão. Fitando a imagem do sol refletida num espelho, o brilho provocou-lhe queimadura na retina, sofrendo cegueira temporária. Mesmo permanecendo três longos dias num ambiente escuro, ainda assim o ponto brilhante não apagava de sua vista. “Empreguei todos os meios para afastar meu pensamento do sol”, escreveu, “mas, era-me impossível desvencilhar-me de sua luz”.

O experimento de Newton representou para mim uma parábola para ilustrar o que ocorrera com Rafael, João e Francisco. Após um encontro com Deus, a plena força do sol, sofreu uma invasão de luz que ficou impressa para todo o sempre em suas almas. Era impossível se desvencilhar. Com o brilho do seu amor, Deus derrete os grilhões que nos mantinham cativos. Leva um a um de nós a nos atirarmos diretamente nos seus braços abertos de amor. É essa nova experiência do amor de Deus que coloca o homem na posição certa e exata para com a vida e o capacita a voltar-se para Ele.
E assim acontece a bondade...

terça-feira, 6 de abril de 2010

UM VISLUMBRE DO CRUCIFICADO

Considere as pessoas que passavam insensíveis pelo Salvador quando estava pendurado na cruz. Como eram cruéis! Mas antes de julgá-las, vamos nos lembrar que muitas ainda hoje estão fazendo o mesmo. Elas se enquadram em três tipos:

PRIMEIRO: AQUELES QUE QUEREM A CRUZ, SEM CRISTO. São os religiosos: Aqueles que estão travestidos de uma capa de aparência de santidade, como se fossem os defensores imbatíveis da moral cristã, a quem Jesus chamou de “sepulcros caiados”, ou seja, “por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento”. São os supersticiosos: Aqueles que se utilizam da cruz como um amuleto sagrado. São os modernos “adoradores de relíquias” do passado. Buscam aquilo que lhes dê substância à sua fé defeituosa e inconsistente. Precisam se acercar de objetos como “água do Jordão”, “anel ungido para casamento”, “água abençoada em cima da geladeira”, “óleo ungido de Israel”, e por aí vai... São os místicos: Aqueles que fundamentam sua crença na “experiência”. Buscam apenas “experiências místicas” como forma de auto-afirmação e proeminência sobre os outros. São os “espirituais”. Mas, na visão de Paulo são, na verdade, “enfatuados, cheios de malícia em sua mente carnal porque não retém o cabeça, que é Cristo”.

SEGUNDO: AQUELES QUE QUEREM O CRISTO, SEM A CRUZ. São os vitoriosos: Aqueles que proclamam sempre a vitória como o único propósito de vida para o cristão. São aqueles que somente enxergam um Cristo vencedor, mas são incapazes de vislumbrar um cordeiro que foi levado para o matadouro. Cultuam o marketing da imagem, já que precisam parecer aos outros sempre na crista da onda, cheios de saúde, vitalidade e dinheiro. São os consumidores: Aqueles que buscam e querem, a qualquer custo, os benefícios de Cristo, e só. Tratam a Deus como um poderoso mordomo de luxo que está obrigado a satisfazer-lhes todos os desejos e caprichos, à custa de uma “determinação humana”. Mas desprezam o evangelho da renúncia, do sacrifício envolvido, da negação da vontade própria e dos prazeres do ego. Para eles o discipulado não é “tome a sua cruz”, mas “abandone a sua cruz”. São os abastados: Aqueles que se preocupam apenas com a prosperidade. O negócio deles é o material, o “ter” como evidência da bênção de Deus. Como naquela letra da música: “Quanto mais tem mais quer”. Exibem seus bens como um tesouro adquirido pela “mão de Deus”, como se adquirir riquezas fosse sinal do favor de Deus. Eles se esquecem da máxima do evangelho que é “melhor dar do que receber”. O evangelho de Jesus é o evangelho do “dar” acima do “obter”, de “dividir” ao invés de “multiplicar”, do “distribuir” ao invés de “adquirir”.

TERCEIRO: AQUELES QUE NÃO QUEREM NEM CRISTO, NEM A CRUZ. São os insensíveis: Aqueles que mantêm uma postura indiferente diante de Cristo e de sua cruz. Diante da grandeza de sua obra redentora permanecem alheios, mesmo contemplando o quadro, mesmo convivendo com a sua realidade. São “indiferentes”. Para esses, Jesus foi um mártir apenas, condenado por suas idéias revolucionárias. São os endurecidos: Aqueles que, devido à convivência com o pecado em suas vidas, tornam-se petrificados a tudo aquilo que diz respeito a Deus e a sua Palavra. Endurecidos pelo pecado, não conseguem fazer germinar e florescer a semente implantada. Escutam, mas não ouvem. Enxergam, mas não vêem. São os orgulhosos: Aqueles que retiraram há tempo Deus do centro e colocaram seu próprio ego. Como dizia Chesterton: “Quando abandonamos a Deus colocamos outro em seu lugar”. Eis o seu Deus: “eles mesmos”. São aqueles que confiam em si mesmos e na força de seu próprio braço. A revelação foi substituída pela razão, e Deus pelo homem. São aqueles que se colocam no centro, como um grande astro, cujos planetas orbitam em sua volta.

E nós, de que tipo somos? Espero que de nenhum tipo destes acima, e sim, aqueles que querem Cristo e a sua cruz com todas as suas implicações possíveis.