sábado, 2 de outubro de 2010

POLÍTICOS POR VOCAÇÃO OU PROFISSÃO?

Vocação, do latim vocare, quer dizer “chamado”. Vocação é um chamado interior de amor. Amor, não por um homem ou por uma mulher, mas por um “fazer”. Esse “fazer” marca o lugar onde o vocacionado vive seu amor com o mundo. Ali, no lugar do seu “fazer”, ele deseja auxiliar, servir, construir. Faria, mesmo que não ganhasse nada. Faria, mesmo que seu fazer o colocasse em perigo. Faria, mesmo que não tivessem muitos para aplaudir.
A vocação é uma paixão por um jardim. Vou explicar. Deus criou um jardim. Ele não era um urbanista, era um jardineiro, inventor de paraísos. Talvez pelo fato dos hebreus terem sido nômades no deserto. Quem mora no deserto sonha com oásis. Quem é vocacionado, quer cuidar do jardim. Ele é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar, para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso sonhar que o deserto inteiro se transforme em jardim.
Seria bom se fosse verdade que o deserto inteiro se transforme em jardim. Mas, para se transformarem em jardim é necessário braços, ferramentas, disposição. Há de se cavar, plantar, cuidar, arrancar, podar, fazer muros. A nobreza da vocação está em que ela tem o poder para transformar o sonho de um jardim num jardim de verdade onde a vida acontece.
Vocação é diferente de profissão. Na vocação, a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão, o prazer se encontra não na ação, mas no ganho que dela se deriva. O profissional, somente profissional, faz seu “fazer” não por amor a ele, mas por amor a algo fora dele: o salário, o ganho, o lucro, a vantagem. O homem movido pela vocação é um amante, pela profissão é um gigolô.
O perigo é que as vocações podem se transformar em profissões. Por exemplo, aos pastores seguem-se os mercenários. Aos políticos seguem-se os interesseiros. Guimarães Rosa, definindo sua vocação de escritor, disse: “Sou escritor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem”. Eis aí a diferença fundamental entre a vocação e profissão: o vocacionado deseja a ressurreição do homem, enquanto o profissional sua utilização.
Escrevo para vocês, jovens, para seduzi-los a se tornarem jardineiros. Talvez haja uma vocação adormecida dentro de vocês (como na estória da Bela Adormecida...). Então, em vez de deserto e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram o amor de plantar árvores a cuja sombra talvez nunca se assentem, mas que teriam a alegria de ver homens, mulheres e crianças vivendo e brincando num jardim...

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