sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O VÉU RASGADO


Ao fim da paixão, com a morte de Jesus, encontramos a narrativa de um intrigante acontecimento: o véu do templo rasga-se em dois, de alto a baixo (Mt 27:51, Mc 15:38, Lc 23:45). Havendo dois véus no templo, aqui se entende provavelmente o interno, isto é, o véu que impedia as pessoas de ter acesso ao Santo dos Santos. Apenas uma vez por ano, o sumo sacerdote poderia atravessar o véu e apresentar-se na presença do Altíssimo.
Agora, no momento da morte de Jesus, esse véu que representa todo o sistema sacrificial e de culto do Velho Testamento rasga-se de alto a baixo. Qual o significado deste acontecimento? O que ele representa? Antes, porém, de observar seu significado, saibamos que o véu rasgado foi um acontecimento crucial. Como um divisor de águas, ele separa duas dispensações, a saber: a velha, da nova. Foi também um acontecimento inaugural, isto é, ele inaugura um novo tempo, uma nova época, um novo sistema, uma nova aliança. Mas, enfim, o que o véu rasgado significa?


Uma Nova mediação

Em primeiro lugar, o véu rasgado significa uma nova mediação. O véu rasgado significa que o período do antigo templo com os seus sacrifícios e rituais como sistema de culto terminou. No lugar dos símbolos e rituais, que eram instrumentos de mediação entre o homem e Deus, temos agora a própria realidade e o único Mediador: Jesus Cristo crucificado que nos reconcilia com o Pai.
Em sua primeira visita ao templo, conquanto nos dias de seu ministério terreno, Jesus vaticinou sobre o término deste antigo sistema de culto, quando declarou: “Eu destruirei este santuário, e em três dias o reconstruirei” (Jo 2:13-22). Jesus estava afirmando que o período deste templo com seus rituais e sacrifícios terminara, e que algo novo chegaria, relacionado com a sua morte e ressurreição.
O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, também fala da supremacia e da primazia de Cristo sobre o antigo sistema de mediação do judaísmo de sua época: “Porquanto há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus” (1Tm 2:5). Portanto, cuidemos de não introduzirmos outro mediador entre nós e Deus. Cristo é o único e suficiente Mediador, porque Ele é o único eficiente Mediador para nos conduzir a Deus!


Uma nova adoração

Em segundo lugar, o véu rasgado significa uma nova adoração. O rasgar-se do véu do templo significa que agora está aberto o acesso a Deus. Até então, o rosto de Deus estivera velado. Só por meio de sinais e uma vez por ano podia o sumo sacerdote colocar-se diante de Deus. Agora, o próprio Deus tirou o véu. Se em Moisés Deus nos ofereceu as “suas costas” (Ex 33:23), em Cristo Deus nos deu o seu rosto, sua vida e sua morte. O acesso a Deus está livre!
Esta sublime realidade é descrita de forma vívida no livro de Hebreus. Ele é o livro por excelência da supremacia de Cristo sobre as “sombras” (Cl 2:16,17) que o Velho Testamento descreve: Cristo é superior aos anjos (Hb 1), superior a Moisés (Hb 3), superior ao sábado (Hb 4), superior ao sacerdócio do VT (Hb 5), superior a antiga aliança (Hb 8) e superior aos sacrifícios e rituais da antiga aliança (Hb 9). O autor nos revela que, através do perfeito sacrifício de Cristo, “tenhamos, pois, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hb 10:19,20). O acesso a Deus foi aberto. O véu foi rasgado. O sangue foi derramado. A obra foi consumada. Agora, adoramos a Deus em espírito e em verdade (Jo 4:23). Esta é a adoração proposta por Cristo.
Cuidemos, pois, para não retornarmos às sombras, já que nos foi revelada a luz, a própria realidade: Cristo. Cuidemos de não oferecermos a Ele “fogo estranho” em nossa adoração. Nosso culto é realizado pela mediação de Cristo, isto é, através de Cristo e para Cristo. Hebreus nos instrui a oferecer a Deus “sacrifício de louvor” (Hb 13:15), e não introduzir em nossos cultos elementos rituais e sacrificiais pertencentes à velha aliança, pois estes cessaram em Cristo.
Cuidemos de ouvir as palavras inspiradas do apóstolo, que já em seus dias labutava contra o erro e a intolerância dos judaizantes que teimavam em introduzir elementos do antigo sistema no culto cristão: “Ninguém vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém a igreja é de Cristo” (Cl 2:16,17).

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